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  • ANA GARLET

Conto Onde estão as Moedas?

Uma história sobre o equilíbrio entre dar e tomar entre pais e filhos.
Pequeno resumo do livro de Joan Garrida.

“Numa noite qualquer, uma pessoa, da qual não sabemos se é um homem ou uma mulher, teve um sonho, um sonho com os pais.

Neste sonho seus pais apareciam e lhe davam algumas moedas, não sabemos quantas eram, se uma dúzia ou uma centena, nem de que metal eram feitas, se eram de ouro, de prata, de cobre, de ferro ou mesmo de argila.

O sonhador as recebia de bom grado porque eram as moedas que seus pais lhe davam, eram as exatas que necessitava e merecia, para levar sua vida.

Satisfeito agradeceu aos pais pelas moedas recebidas tomando-as por inteiro.

E o sonhador (a) termina a noite de sono tranquilo (a), descansado e pleno.

Ao amanhecer, desperta bem-disposto e resoluto em ir à casa dos pais para comentar o sonho e agradecer as moedas recebidas.

Indo até os pais, comenta o sonho e agradece as moedas recebidas, em profunda gratidão. Seus pais, vendo a atitude do filho (a), sentem-se grandes, ainda maiores e mais bondosos do que haviam sido e orgulhosos do filho (a). Dizem-lhe então:

– Estas moedas são para você, use-as como quiser e não precisa devolvê-las, são nossa herança para você.

E este filho (a) segue seu caminho satisfeito e pleno, capaz de enfrentar e vencer qualquer desafio, com a certeza de haver recebido as exatas moedas que necessitava e merecia de seus pais, suficientes para empreender sua caminhada. De tempos em tempos volta-se para trás, em direção à casa dos pais, e sente-se revigorado e pleno para seguir e realizar sua vida.

Acontece, que em outra noite qualquer, um outro sonhador (a) tem um sonho parecido, que costuma acontecer com qualquer um de nós, mais cedo ou mais tarde, de ter um sonho com os pais. Neste sonho, o sonhador (a) recebe dos seus pais algumas moedas, que não sabemos se uma dúzia, uma centena ou apenas umas tantas, nem de que metal eram feitas, se de ouro, de prata, de cobre, de ferro ou mesmo de argila. Mas este sonhador não aceita as moedas dos pais.

– Estas não são as moedas que necessito, preciso e mereço, por isto não as tomo e deixo-as com vocês. Se eu as tomasse minha vida se tornaria pesada e, portanto, fiquem com elas.

E este sonhador (a) segue pela noite intranquilo, com o sono entrecortado e desperta muito cedo, cansado e ansioso por ir até a casa dos pais, contar-lhes a respeito do sonho.

Lá chegando, diz aos pais sobre o sonho e que aquelas moedas não lhe interessam, que aquilo que eles tinham para ele não eram as moedas que ele (a) necessita e merece, deixando-as, portanto, com eles.

Os pais ouvindo isto, tornam-se ainda menores, humilhados, como costuma acontecer quando um filho (a) não toma seus pais, seus ensinamentos e sua herança, tal como foi; e retiram-se para seu quarto.

E este (a) sonhador (a), tomado de uma estranha força, sente-se fortalecido e vingado, havendo acertado as contas com seus pais, e sai para a vida decidido a encontrar suas moedas, as que justo necessita e merece. Com alguém elas devem estar.

E tomado por esta força, estranhamente falsa, vai pela vida em busca de parceira (o), procurando pelas moedas que necessita e crê poderem estar com ela (ele).

As vezes tem a sorte de encontrar alguém e mais sorte ainda desta relação durar algum tempo.

Quando isto ocorre, com o passar do tempo o sonhador (a) percebe que sua (seu) parceira (o) não tem as moedas que necessita e merece, e o relacionamento perde todo seu encanto, ficando para trás. E o sonhador (a) segue em busca de outra pessoa que talvez, desta vez, tenha as suas moedas.

E de relacionamento em relacionamento, segue em busca de suas moedas e desencantos, porque nenhum deles tem as moedas que necessita e merece.

Outras vezes, o sonhador (a) tem um filho (a) e, ao engravidar, cria a forte expectativa de que este filho (a) terá as moedas que necessita e merece, e o (a) aguarda ansioso (a) e cheio (a) de esperanças. Mas a vida é como é; os filhos crescem e seguem seus próprios caminhos, e tampouco eles têm as moedas que o pai ou a mãe procuram.

E nesta busca incessante, o tempo vai passando até que o desespero toma conta: onde estarão minhas moedas, justo as que necessito e mereço para levar minha vida.

Então, algumas vezes, vão em busca de um terapeuta, na certeza de que eles sim saberão das moedas.

Mas há dois tipos de terapeutas: um que acredita que tem as moedas que seu cliente procura; e outro que sabe que não as tem, mas está disposto a ajudá-lo a procurá-las.

Quando tem a sorte ou a sabedoria de encontrar este segundo tipo de terapeuta, dá-se início a um processo de autoconsciência e aprendizado, onde o sonhador (a) vai percebendo aspectos antes ignorados, apropriando-se de sua própria vida, pouco a pouco.

Até que num belo dia o terapeuta se dá conta de que o sonhador (a) já está pronto para saber onde estão suas moedas. E neste mesmo dia, não apenas por coincidência, o sonhador (a) vem para a terapia e diz:

– Eu já sei onde estão as moedas. Ainda estão com os meus pais.

E resoluto (a), empreende o retorno à casa dos pais, em busca das justas moedas que necessita e merece.

Chegando à casa dos pais, arrependido (a) e amadurecido (a), toma-os por inteiro, tal como foi aceitando feliz e de bom grado as moedas que eles têm para si, exatamente as que precisa, necessita e merece para levar sua vida em plenitude.

E seus pais, reconhecidos e aceitos inteiramente pelo filho (a), tornam-se ainda maiores, mais dignos e responsáveis, podendo ser ainda mais generosos. E assim, o sonhador (a) encontra seus caminhos, com a fortaleza da herança dos pais: agradecendo a vida recebida; dizendo sim a tudo, tal como foi libertando-se de todas as mágoas, deixando as responsabilidades com quem de direito; e tomando sua própria vida em suas mãos, com a benção de seus pais, para que, agora possa buscar sua felicidade. ”

Título original: GARRIGA, Joan. Donde están las monedas? El cuento de nuestros padres. Barcelona, 2006, 3 edicíon

Título no Brasil: GARRIGA, Joan. Onde estão as Moedas? As Chaves do vínculo entre pais e filhos. Ed Saberes, 2011, Campinas/SP. Tradução: Adriana Campidelli e Lorice Ashkar Ferreira/ Revisão: René Schubert e Anna Carolina Garcia de Souza.

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