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  • Kentetsu Takamori

O assassino se salva

Nos tempos do Buda Sakayamuni, no reino de Kosala, vivia um rapaz muito bonito, forte e inteligente. Ele era discípulo de um homem que liderava uma seita de falsos ensinamentos. A mulher desse líder apaixonou-se pelo rapaz. Um dia, quando seu marido estava ausente, ela confessou seus sentimentos ao jovem e tentou seduzi-lo. De caráter íntegro, ele resistiu aos avanços da mulher e a censurou pela infidelidade.

Envergonhada, ela foi embora cabisbaixa e frustrada. Logo, a paixão ardente se transformou em ódio desenfreado e ela arquitetou uma vingança terrível: rasgou as próprias roupas e caiu no chão com o corpo exposto da cintura para baixo. Chorando, disse ao marido que o jovem discípulo se aproveitara de sua ausência e a estuprara.

O marido ficou horrorizado. O ciúme violento o fez pensar numa vingança capaz de levar o jovem à autodestruição e ao sofrimento eterno. Fingindo tranquilidade, ele chamou seu discípulo e disse:

“Você já dominou todos os meus ensinamentos. A única coisa que lhe falta é ir até a encruzilhada da cidade e matar cem pessoas. Corte um dedo de cada vítima e faça um colar. Quando terminar a tarefa, seu caminho para a iluminação estará concluído”. E entregou-lhe uma adaga.

De início, a crueldade assustadora daquela ordem deixou o jovem hesitante. Mas, por fim, ele decidiu que não podia desrespeitar as ordens de seu mestre. Com espírito resoluto, foi até a encruzilhada da cidade e com fúria selvagem começou a matar indiscriminadamente todos os que por ali passavam – jovens, velhos, homens e mulheres. Cortava um dedo de cada um e os amarrava para formar o colar. Logo se formou uma grinalda vermelha, da qual gotejava o sangue de noventa e nove vítimas.

O rumor de seus crimes se espalhou rapidamente e começaram a chama-lo de Angulimala, ou seja, “ a grinalda de dedos”. Como um demônio enlouquecido, ele saiu à procura de sua última vítima quando duas figuras apareceram diante dele: sua mãe e o Buda Sakayamuni. Os rumores haviam chegado aos ouvidos da mãe, que, chocada, saíra a sua procura.

O jovem já não conseguia distinguir as pessoas e num frenesi atacou o Buda Sakayamuni. Algo estranho aconteceu. Ele não conseguia dar nem mais um passo à frente. Frustrado, o rapaz soltou o grito agudo: “Monge, pare!”.

“Eu estou parado”, respondeu calmamente o Buda. “Quem não está parado é você”. Angulimala se surpreendeu com a resposta inesperada e indagou seu significado.

“Você foi enganado por falsos ensinamentos e, agitado, tira a vida humana sem razão. Por isso não consegue paz nem no corpo nem no espírito. Olhe para mim. O plano em que me encontro transcende o ciclo nascimento e morte e não tenho nenhuma aflição. Você, vagando perdido entre o sofrimento, tem de acordar imediatamente do pesadelo e entrar no mundo supremo”.

Diante da nobreza e dignidade supremas do Buda. Angulimala, o demônio dos ensinamentos malévolos, caiu em prantos. E no mesmo instante, naquele lugar, tornou-se discípulo fervoroso do Buda.

Tempos depois, Sakayamuni comentou: “De todos os meus discípulos, ninguém consegue superar Angulimala na rapidez com que vê a luz ao ouvir a verdade”.

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