Libertando a Alma da Organização
“Organizações de sucesso no século XXI serão aquelas que compreenderem como libertar a mente, a alma e o espírito de seus colaboradores”.
Pergunte a qualquer grupo de presidentes de empresa esclarecido qual é a informação mais valiosa que eles gostariam de ter, e eles dirão: “Como criar um espírito de inovação e criatividade na minha organização? ”. Num mundo em que a mudança está crescendo de forma exponencial, fortunas estão sendo ganhas e perdidas com base na habilidade das empresas em antecipar tendências e criar produtos que satisfaçam essas exigências. Mas no século XXI, expressar a inovação e a criatividade será insuficiente para garantir o sucesso. Neste século o sucesso também dependerá de a empresa ser vista como um membro confiável da comunidade, um bom cidadão global, aos olhos dos funcionários e da sociedade em geral.
Quem você é e aquilo em que você acredita está se tornando tão importante quanto aquilo que você vende. Os valores que as empresas apoiam estão afetando cada vez mais a sua capacidade de contratar os melhores talentos e vender os seus produtos. Cada vez mais pessoas estão percebendo que existe um nexo causal entre os crescentes problemas sociais e ambientais e a filosofia dos negócios. Governos e comunidades estão reconhecendo que a busca do interesse próprio está não apenas destruindo o sistema de suporte à vida do planeta, mas também o tecido social. A era da autocracia corporativa está chegando ao fim. Existe muita coisa em jogo para não ser desta maneira.
Líderes de negócios de sucesso no século XXI terão que encontrar um equilíbrio dinâmico entre os interesses da organização, dos funcionários e da sociedade como um todo. Para alcançar este objetivo eles terão que levar em conta a mudança de valores que está acontecendo na sociedade, e a crescente necessidade das pessoas por um trabalho significativo, que tenha um propósito. Isso obriga a formas mais abertas e transparentes de governança corporativa, em que as pessoas são encorajadas e recompensadas por desenvolverem o seu potencial e contribuírem de forma positiva sobre o todo. Isso só é possível por meio da criação de uma cultura de confiança.
Para a maioria das organizações, desenvolver essa cultura implicará tanto a transformação pessoal quanto a corporativa. A cultura corporativa reflete, em grande parte, a personalidade do presidente ou dos fundadores da empresa. Para uma mudança de cultura, é preciso uma mudança na personalidade do líder. As duas coisas são inseparáveis. Transformação corporativa é, na verdade, transformação pessoal. Tem relação com a vontade do líder em mudar a sua filosofia de negócios, libertando-se do interesse próprio (“o que eu ganho com isso? ”) e apoiando o bem comum (“como eu posso contribuir? ”). Quando essa transformação se completa, cria-se uma cultura baseada em valores que liberta a alma da organização. Nesta passagem de século, estamos começando a perceber que organizações dirigidas por valores estão no topo das pesquisas de lucratividade e popularidade. As pessoas estão clamando por trabalhar em organizações que as vejam em sua plenitude, oferecendo oportunidades que dão significado e propósito às suas vidas, permitindo que elas expressem toda a sua criatividade.
As pesquisas mostram que todos nós temos a capacidade para sermos excepcionalmente criativos, mas o processo de socialização por meio de família, escola e trabalho direcionam essa capacidade para o porão da mente. Testes aplicados a grupos de crianças com idades entre 3-5 anos, e cinco anos mais tarde com idades entre 8-10, e novamente cinco anos mais tarde com idades entre 13-15, mostraram que 98% das crianças de 3-5 anos foram classificadas na categoria de gênios criativos. Cinco anos mais tarde, apenas 32% tiveram o mesmo resultado. E cinco anos mais tarde este valor chegou a 10%. O mesmo teste dado a 200.000 adultos acima da idade de 25 anos mostrou que apenas 2% tinham um nível de genialidade criativa. Nossa competência para expressar a própria criatividade decai na medida em que aprendemos a aceitar as opiniões, avaliações e crenças dos outros. O gênio criativo da criança de 5 anos de idade ainda está escondido dentro de cada um de nós, apenas esperando para se libertar.
A principal razão que impede as organizações de tomar o partido da criatividade de seus funcionários é que elas não conseguem compreender a importância de conectar o bem-estar e a sobrevivência dos seus funcionários com o bem-estar e a sobrevivência da empresa. Quando a relação entre esforço e recompensa é rompida - você é pago apenas para fazer, e não para pensar - não existe incentivo para atingir um alto desempenho. Apenas quando as pessoas sentem uma relação direta entre suas próprias contribuições, o sucesso da empresa e a sua recompensa pessoal, é que elas assumem responsabilidade pelo todo. Quando isso acontece, as pessoas se sentem encorajadas a realizar todo o seu potencial.
O desafio para as organizações no século XXI é reconhecer que o seu maior ativo é o seu capital humano e, consequentemente, criar um ambiente de trabalho motivador que convida as pessoas a expressarem toda a sua criatividade. Uma precondição para que isso aconteça é a necessidade de um sentimento de domínio e uma visão e valores compartilhados. Se as pessoas irão investir todas as suas energias no trabalho, elas irão querer ser acionistas do futuro da organização. Em outras palavras, democracia moral e econômica são componentes essenciais de uma cultura que investe na inovação e na criatividade, libertando o potencial humano.
Criatividade e Confiança
Existe uma relação direta entre criatividade e confiança. O oposto de confiança é controle. Uma cultura baseada no controle sabota a inovação e a criatividade. O medo no local de trabalho faz com que as pessoas resistam a falar o que pensam. Elas não querem expressar as suas ideias num ambiente crítico. Quando o medo se alastra, a criatividade desaparece. As empresas precisam da criatividade, e as pessoas precisam expressá-la para que se sintam bem consigo mesmas. John Kao, um palestrante experiente sobre a questão da criatividade diz: “a escolha para o futuro é dura – crie ou fracasse”.
Existe outro aspecto do desenvolvimento da criatividade que vai além da confiança, das recompensas e do bem-estar. Ela é uma das formas mais importantes de expressão da alma (a intuição é outra). Quando as pessoas trabalham para empresas que têm valores com os quais elas se alinham, e são envolvidas em projetos ou tarefas que fazem uso de seus talentos, elas entram em contato com níveis profundos de criatividade. Elas estão acessando a sabedoria e a intuição de suas almas. O trabalho neste nível torna-se um jogo ou divertimento, e a recompensa deixa de ser uma questão central. O trabalho torna-se a sua missão, e a sua vida é preenchida de significado e propósito. É muito raro encontrar organizações que compreendem e cultivam este nível de comprometimento em seus funcionários. Aquelas que o fazem irão se tornar as empresas visionárias do futuro. Elas serão capazes de liberar um potencial de criatividade que não será ultrapassado. Thomas Watson Jr, ex-presidente da IBM escreveu, já em 1963: “Eu acredito que a diferença real entre sucesso e fracasso numa organização está geralmente relacionada à seguinte questão: qual a capacidade de uma empresa em despertar as energias e os talentos de seu pessoal? ”.
Nós chegamos num ponto em que centenas de milhões de pessoas estão insatisfeitas com um trabalho que satisfaz apenas às suas necessidades materiais. Elas querem um trabalho que também satisfaça suas necessidades espirituais. Quando esse equilíbrio não acontece, elas ficam insatisfeitas com os seus empregos. Cada vez mais pessoas se encontram nessa situação. De acordo com uma pesquisa recente com mais de 800 gerentes, num período de 40 anos, a insatisfação e a infelicidade no trabalho nunca foram tão altas. Quatro de cada dez entrevistados detestavam o que faziam. Essa proporção é o dobro da de 40 anos atrás. Quando as pessoas estão nesse nível de insatisfação, elas fazem o mínimo, o suficiente para não perderem o emprego. Elas não estão preparadas para assumir totalmente a responsabilidade, pois os seus corações e mentes não estão naquilo que fazem.
Organizações de sucesso no século XXI terão culturas muito diferentes das atuais. Elas serão dirigidas por valores. Elas irão perseguir uma gama ampla de objetivos que apoiam a saúde econômica, mental, social/emocional e espiritual da organização e de seus funcionários. Elas irão encorajar os funcionários a assumir responsabilidade pessoal pelo sucesso do negócio. Elas irão criar um ambiente de trabalho que incentiva a inovação e a criatividade. Elas irão encorajar os funcionários a desenvolver seus talentos naturais. E, acima de tudo, elas irão competir com outras organizações para se tornarem membros confiáveis da comunidade e os melhores cidadãos globais. Elas farão tudo isso porque será imprescindível para alcançar sucesso financeiro de longo prazo.