O sociólogo Peter Berger escreveu um livrinho delicioso: Introdução a Sociologia. Um dos capítulos tem um título estranho: “Como trapacear e se manter ético ao mesmo tempo”. Estranho à primeira vista. Mas logo se percebe que na política, como na religião, é de suma importância juntar ética e trapaça.
Para explicar, vou contar uma estorieta. Havia uma cidade dos Estados Unidos uma Igreja Batista. Os batistas, como se sabe, são um ramo do cristianismo muito rigoroso em seus princípios éticos. Havia na mesma cidade uma fábrica de cerveja que, para a Igreja Batista, era a vanguarda de Satanás. O pastor não poupava a fábrica de cerveja em suas pregações.
Aconteceu, entretanto, que por razões pouco esclarecidas a fábrica de cerveja fez uma doação de quinhentos mil dólares para a dita igreja.
Foi um auê. Os membros mais ortodoxos da igreja foram unânimes em denunciar aquela quantia como dinheiro do Diabo que não poderia ser aceito. Mas, passada a exaltação dos primeiros dias, acalmados os ânimos, os mais ponderados começaram a analisar os benefícios que aquele dinheiro poderia trazer: uma pintura nova para a igreja, um órgão de tubos, jardins mais bonitos, um salão social para festas. Reuniu-se então em assembleia para a decisão democrática. Depois de muita discussão, registrou-se a seguinte decisão no livro de atas.
“A Igreja Batista Betel resolve aceitar a oferta de quinhentos mil dólares feita pela cervejaria na firme convicção de que o Diabo ficará furioso quando souber que seu dinheiro vai ser usado para a glória de Deus”.
